terça-feira, 29 de maio de 2018

Cartaz


Não é esta uma exposição temática, nem uma qualquer linha de estilo, biográfica ou de cor, une qualquer dos autores expostos. É um conjunto de quadros cujos autores impressionaram por uma ou outra razão o autor destas linhas. 
António Bártolo, veio de Angola, entrado em Portugal por Trás-os-Montes, indo parar a Torres Vedras onde pontificou o laborioso Molina, hoje com lindas e coloridas serigrafias espalhadas por todo o país. É hoje um renomado aguarelista, professor de futuros aguarelistas e Presidente da Direcção da AAPOR – Associação de Aguarela de Portugal.
António Lino Pedras, emprestou-nos um entusiasmo fora do comum quando em 1993 resolvemos organizar o cinquentenário das primeiras exposições do grupo de independentes do Porto. Graças a ele pudemos recrear o ambiente que a maior parte dos “independentes” participantes no evento lembrava dos idos de 1943 quando frequentavam a Escola de Belas Artes do Porto, com fado vadio e muita confraternização na Adega Vila Meã.
Barceló, foi uma figura presente nos meios culturais da cidade do Porto, com as suas “iluminuras” e “caretas”, expondo com frequência na sala de exposições d’ “O Primeiro de Janeiro”. Tinha vários projectos em andamento, entre eles a elaboração de um álbum da sua obra, quando a morte o ceifou num acidente no Hospital Magalhães Lemos.
Francisco Simões não precisa de apresentações, já que está apresentado por todo o país e pelo estrangeiro através da sua escultura. Quando passei pelo seu atelier, a tratar de uma exposição que nunca se concretizou, trouxe de lá algumas obras, entre as quais a que ora se expõe.
Helena Canotilho é uma rapariga da minha idade. O sobrenome conhecia-o de Coimbra, quando o Prof. Doutor Joaquim Canotilho veio da tropa tomar o lugar de assistente do lente Rogério Soares que regia a cadeira de Ciência Política e Direito Constitucional. Helena herdou-o do marido, sobrinho do dito “Quim Canotilho” como carinhosamente era conhecido o então jovem assistente da Faculdade de Direito. Ao ver a sua obra colorida de “miligranas”, convidei-a para a magnífica exposição que apresentou nesta galeria.
Henriques Tavares conheci-o no Café Progresso de Ovar, quando por lá peregrinava a caminho do Colégio da mãe de Filipe Menezes. Duas vezes por semana expunha os seus quadros no lambrim do café, distribuía uns papelinhos enrolados com os números da sorte e ao fim da tarde sorteava dois quadros. Quando me instalei no Porto para ganhar o pão, voltamos a encontrar-nos. Um abraço, um café e uma subida ao meu escritório. Todos os meses lá ia homenagear-me com a venda de uma das últimas obras que lhe saíra da paleta, em hora de inspiração. Eu pagava e agradecia a atenção. Tenho uma vasta colecção de obras deste apóstolo da pintura que desde há muito subiu ao céu a prestar contas ao Criador!
Jorge Vilaça foi-me apresentado por um condiscípulo que o casamento fizera instalar-se em Tomar. Foi na festa dos tabuleiros. Entre dois copos de “receita” – laranjada misturada com vinho de Ourém – foi-me falando das sua andanças por França e da sua conversão às coisas da arte que o fez abandonar a vidinha de um bom salário ao fim do mês. Na altura assinava “Bem-aventurado Jorge” pois considerava uma bem-aventurança ter-se convertida a imaterialidade dos sonhos. Pintou por Arganil, onde deixou obra. Instalou-se na aldeia do Piódão, na casa que a autarquia transformou no museu da aldeia, onde podem ser vistos alguns dos seus quadros.
Lídia Martinez. Foi o pintor Bertino, radicado em Paris, quem me falou dela. Bati-lhe à porta num primeiro andar da Rue Blanche, por detrás da Igreja da Santíssima Trindade. Poeta, pintora, cenógrafa, tem largo percurso internacional por vários continentes. Na altura estava a traduzir Saramago para o francês, mas arranjou tempo para vir ao Porto inaugurar a sua exposição.
Maria Amélia Alves. Não a conheço pessoalmente. Sei que é uma talentosa aguarelista auto-didacta. A sua obra conhecia-a numa casa de molduras, onde terá contactado com a obra dos muitos artistas plásticos que por lá passam a emoldurar os seus quadros. Deus fez o que a escola não terá podido fazer. Deu-lhe a habilidade e o talento para poder apresentar obra ao nível dos muitos aguarelistas especialistas no género.
José González Collado. Bateu-me à porta a sugerir uma exposição. Subi ao Ferrol e visitei o atelier que manteve em funcionamento até à sua morte, em frente à praça que tem hoje o seu nome. O que havia para escolher era um mundo. Veio várias vezes ao Porto mostrar a sua arte e matar saudades dos anos sessenta onde por cá andou com Oliveira Guerra na aventura da revista Céltica que reunia alguns vultos da cultura portuense daquele tempo.
Mário Couto. Expôs nesta galeria por diversas vezes quer individual, quer colectivamente. Pinta a cidade do Porto a óleo. Homem de letras e de arte, tem um percurso nacional e internacional que o levou às Bienais de Arte de Florença, Buenos Aires e S. Paulo. A sua obra está espalhada por várias colecções nacionais e no estrangeiro.
Mário Silva. Na cooperativa estudantil Clepsidra, mesmo ao lado das escadas monumentais da Universidade, havia um mural imenso que era obra deste renomado pintor e pretexto para se recordarem algumas das suas histórias de acção política. Anarquista, foi uma lenda em Coimbra. Passou pelos calabouços da PIDE por ter participado em algumas acções de protesto. Expôs nesta galeria, nos anos 90.
Mary Carmen Calviño. Figura incontornável nos meios culturais da cidade da Corunha, é uma pintora de vasta cultura, mantendo-se fiel às técnicas e temas tradicionais, é conhecida pelos seus magníficos BODEGONES. O seu atelier no centro da cidade é porto seguro para sucessivas gerações de alunos que pretendem aprender as artes do ofício da pintura. É membro de várias associações culturais, tendo presidido à direcção de algumas delas, entre as quais a Associação de Artistas da Corunha. Participou em várias iniciativas desta galeria, nela tendo exposto individualmente.
Pedro Charneca. Suave como a sua pintura, este autor, poeta sensível, pinta a tradição com a leveza com que ela se nos representa no espírito. Vindo do Alentejo profundo exerce a sua mestria na arte da aguarela cuja técnica domina na perfeição. Participou em algumas das iniciativas desta galeria. Expondo aqui individual e colectivamente. 
Porfírio Alves Pires, nasceu em Montalegre em 1944. Instala-se em Paris onde termina a sua Licenciatura em 1973, na École Camondo de Architecture Intérieure & Design (C.E.S.A.I.P.E.). É encarregue das cadeiras de desenho no Atelier André Michel em Paris na primeira metade da década de 70. Ensina projecto e desenho na Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, em Lisboa na década de 80. É critico de arte no Diário de Lisboa de 86 até à sua extinção, e no Diário Fim de Semana. Expôs na Galeria Vieira Portuense por diversas vezes quer colectiva, quer individualmente.

Figurações III - 9-02-2019